segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Relatos do meu 'Menbong' (멘붕)

Olá~ Há muito tempo não escrevo. Bom, pelo menos parece uma eternidade desde que estive aqui. (Tirando o post para ajudar as vítimas do tufão Hayan, nas Filipinas). Enfim, vim relatar algumas coisas sobre o meu colapso mental na última semana. 

 
Nessa foto só consigo ver uma pessoa cansada.
Esse não é o olhar que quero ter...

Não sei o que aconteceu, qual foi o gatilho, mas de segunda para terça-feira da última semana, fui tomada por uma incrível angústia. Achei que poderia ser algo relacionado com a minha família. Pela manhã, na faculdade, liguei para minha irmã para ver se todos em casa estavam bem e felizmente sim. Era só eu quem estava mal mesmo. E passei o dia inteiro mal, com uma dor de cabeça dos infernos, o corpo cansado, a cabeça sem conseguir se focar em nada. 

Perguntei para a psicóloga se poderia ter algo relacionado com a minha medicação (estava tomando Ritalina 20mg para o tratamento do TDAH) e ela pediu que eu entrasse em contato com meu psiquiatra para conversar sobre prováveis efeitos colaterais. Acho que tudo desmoronou a partir do momento em que eu liguei para a clínica dele para ouvir da secretária que não tinha consulta marcada lá e que nem tinha meu nome no sistema. Isso me provocou um desespero tão grande, que saí do meu trabalho dirigindo feito uma doida e parei no consultório em poucos minutos. Só para chegar lá, olhar nos olhos da secretária que disse que tinha achado meus dados e que minha consulta seria na quinta-feira (um encaixe). 

Daí eu, na minha imensa ignorância, resolvi postar algo no Facebook sobre o ocorrido. Porque para mim, a moça havia mentido. Então escrevi "Apenas... que aprendam a mentir melhor" ou algo assim. Mas o 3G da TIM estava aquela maravilha e não deu pra fazer check-in. No caminho para a academia, uma amiga se ofendeu com o que foi escrito. Eu fiquei grilada também, daí juntou tudo e dei uma crise de choro no vestiário, com a minha personal conversando comigo, me botando pra cima. Foi nessa conversa que eu disse uma coisa da qual me arrependo amargamente: eu disse que às vezes me sinto desqualificada para viver em sociedade. Essa palavra - desqualificada - me machuca até hoje.

Mas calma, tem mais história por aí. Na minha faculdade um evento é realizado todos os semestres envolvendo todos os cursos de graduação - menos Direito, porque direito é bacharelado e não se mistura com essa gentalha (brinks). Enfim, a duas semanas do evento, ficou combinado que a nossa turma se dividiria em três e faria um mapeamento, por assim dizer, dos impostos cobrados sobre: remédios, vestuário e automóveis. Na semana seguinte foi semana de provas (as provas bimestrais da minha faculdade foram em novembro, contrariando toda a lógica de provas BImestrais) e na outra semana tivemos mais provas. O evento começou, se não me engano, na quarta-feira, e a exposição dos impostos seria na sexta-feira.

Eu, com minha cabeça se negando a funcionar direito, extremamente cansada, e julgando que não tivemos apoio suficiente para realizar a feira, realmente não estava com muita disposição para me concentrar naquilo. Procrastinei, procrastinei e, quando chegou a hora, realmente não achava energia para fazer o que foi proposto.

Minha energia foi embora quando, em pleno 19º CONAJE, recebi mensagens pedindo para que eu ligasse para o coordenador do curso. Liguei, ele me informou que um colega, responsável pelo automóvel, iria viajar. Ao que eu respondi - "E eu com isso?". Depois perguntou sobre o andamento dos preparativos e eu respondi que não tinha nada pronto. Do alto do meu cansaço, ou da minha falta de esperança em relação ao evento e da sua validade acadêmica, disse que iria propor que a turma boicotasse o evento. Oras, boicotar a feira é menos prejudicial do que boicotar o ENADE (beijos, seus filhos da mãe). 

Foi então que ouvi o que não queria: "Se vocês não fizerem, vão todos reprovar". Bem, não dei muita bola para a mensagem em si. Acho impossível alguém bombar uma turma inteira, mas ok. O que me deixou sentindo como se tivesse levado um soco no estômago foi a ameaça. A total falta de negociação. Porque depois disso nem tive argumentos, na verdade nem lembro muito bem o que fiz. Só sei que já tinha passado das 19h e fiquei na UFG até umas 23h para ouvir o Alexandre Garcia mediar o debate entre o Ministro do Trabalho, Manoel Dias, e o presidente da Secretaria de Indústria e Comércio de Goiás, Rafael Lousa. Nesse meio tempo, no celular, vi uma mensagem da professora dizendo que era muito fácil o que tínhamos que fazer. Repassei pra turma. E mais uma vez o negócio de todos sermos reprovados apareceu, me deixando com um amargo na boca.

Calma, já tá acabando. No outro dia, apanhei meu notebook, fui pra faculdade, conversei com colegas de classe, combinamos de estar na sexta-feira pela manhã para arrumar nosso stand. Depois passei na casa de uma amiga, combinamos o que fazer. De lá fui para uma papelaria, comprei materiais para fazer placas estilo protestos dos últimos tempos. Fui pro trabalho, depois pro psiquiatra (chá de cadeira de 1 hora), depois pra psicóloga e de lá eu teria que chegar em casa e fazer as benditas placas. 

Minha conversa com o psiquiatra foi a mais relaxante/honesta/reveladora que tivemos desde que comecei o tratamento, há 5 meses. A conversa que tive com minha psicóloga foi bastante encorajadora, no sentido de eu reconhecer que nossa, como estava cansada, e nossa, como não tinha forças pra mais nada. Eu precisava descansar.

Ao sair do consultório, liguei para o coordenador. Como ele desligou o telefone, corri para a faculdade, para a abertura noturna do evento. E lá fui eu, agoniada pra cacete. Bati no ombro dele e disse: "Professor, se quiser me bombar, pode bombar. Eu não vou fazer o trabalho". Ele argumentou que parecia estar tudo certo, eu disse que talvez eram outros alunos, mas não eu. Então saí correndo, disse para uma colega de classe que não iria no dia seguinte, e corri para casa. 

No outro dia, dormi profundamente. Eu havia contado para minha família o que aconteceu. Eu estava um caco. Nem sei dizer o que fiz pela manhã além de dormir, só sei que à tarde fui ao escritório, não devo ter ficado nem meia-hora por lá. Saí para espairecer, dei de cara com briga de trânsito e uma incapacidade de relaxar no Parque Flamboyant. Então voltei pra casa, dei um passeio com minha cadelinha e aí sim consegui descansar a cabeça. Antes de dormir, chorei um pouco, perguntei ao professor se tudo tinha ido bem. Durante o dia eu havia informado de que não havia melhorado e pedido desculpas se, por acaso, havia agido de forma rude. 

Bem, o que aprendi com isso tudo? Inúmeras coisas. Primeiro: estou estressada. Aparentemente, o estresse tem três níveis: no primeiro nível, o estresse serve como gás para fazer suas atividades, te dá energia e te ajuda a se tornar produtivo. No segundo estágio, você se torna mais alerta do que ocorre à sua volta, se não me engano. No estágio em que estou, só quero dormir, a mente já não consegue processar informações e ações, pois está cansada, o que reflete no corpo. 

O fato da Ritalina potencializar meu cansaço pode tanto ser uma consequência do estresse como uma tentativa do meu corpo de se opor ao efeito do remédio para me proteger. 

O Facebook é uma meleca. Outra lição valiosa.

Eu me cobro demais. Essa é a frase mais ouvida por mim, dita por diversas pessoas, em diversos momentos nesses últimos 7 dias. E é verdade. Até questionei, há algumas semanas, como posso ser TDAH e perfeccionista. É uma mistura impossível. Ela me disse que talvez não se tratasse de perfeccionismo, mas de uma cobrança interna que sempre existe em quem tem o transtorno, uma forma de compensar as falhas que vêm com ele - aparente desinteresse, procrastinação etc.


Há alguns meses comprei um livro chamado "A arte da Imperfeição - abandone a pessoa que você acha que deve ser e seja você mesmo". No fim de semana, comecei a ler a obra da doutora Brené Brown, especialista em estudos sobre vergonha, que, baseada em experiência própria e em anos de trabalho com vergonha, fala um pouco sobre o que é a Vida Plena e o que é preciso fazer para chegar lá.

O interessante é que ela não passa uma lista, não dá uma receita... Ela fala de sentimentos, de ações, de coisas que precisamos abdicar ou praticar para enfim sermos quem somos, seres vulneráveis e verdadeiros, que amam, são compassivos e que, por isso, merecem amor e compaixão.

Não foi a primeira vez que aconteceu de eu dar essa "piradinha", mas espero que seja a última. Se você chegou até o final desse texto, eu tenho uma coisa para contar: preciso de ajuda. Há muitos anos quero ser autossuficiente, quero provar que sou boa, que sou capaz, que não vou decepcionar meu pai, minha mãe e irmã, que vou dar conta de ter boas ideias, que vou ser perfeita. Tá tudo errado. Preciso de ajuda porque vivo há quase 27 anos assim e isso só me levou por caminhos de falhas, solidão, desespero, ansiedade, enfim, uma lista infinita de coisas que não fazem bem a mim nem a quem está ao meu redor. Quero ser feliz.

Viver é um processo. Se venho acumulando coisas, estabelecendo padrões há 26 anos, não vai ser de um dia para o outro que as coisas vão mudar. Mas preciso achar a coragem e força necessárias para começar. 

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